sexta-feira, 6 de março de 2009

PLENO DO SANTO ESPÍRITO



Para o Andrew foi o começo. Para o Nhofy foi o melhor ensaio, até porque não ficamos repetindo e repetindo.mal ele sabe em que há de chegar o dia de ficar repetindo e repetindo e é isso que garante a excelência. Gemaque e Neto também expressaram seu contentamento e todo mundo parecia pleno, cheio, diria mesmo saciado, desses gozos que enchem o peito e deixam a pele danada de boa! Temos uma pequena preocupação com o espaço. A Casa da Linguagem não possui espaço para que guardemos nosso material lá e o Cabrali tem que ficar levando e trazendoos instrumentos nas costas. O Neto ajuda, mas além de não ser bacana, anda é arriscado. Pelo nosso patrimônio e, sobretudo pela integridade dos dois. O Frank vai tentar resolver a sala de ensaios do SIT, mas se não rolar, teremos problemas, porque vai chegar cenário, bonecos e cadê lugar pra tudo isso? A falta de um espaço próprio pesa demais. Vejo outras companhias com o mesmo problema e penso (já pensei) num acordo em que duas, ou mais companhias dividíssemos custos de um espaço e organizassem sua ocupação. Mas é complicado. Aluguéis muito altos e todos praticamente trabalhando à noite o que seria o grande ponto de discussão na hora de partilhar o tempo.
Por enquanto vamos que nem folha no vento, contando com a valiosa ajuda de amigos como os Modernos e agora o Aldo e este espaço que nos recebe. Até quando?

E depois de um discurso que eu considero apaixonado em defesa de uma idéia do Nhofy (ver Quem somos Nós?), fechamos que enquanto não estivermos de personagens seremos um outro personagem: a escuridão da floresta. O Aníbal pediu que pensássemos bem nisso e que na sexta receberíamos um papel onde desenharíamos o que é isso. É, mano, é o Pacha botando a gente pra trabalhar/1 tá certo!!!
Que felicidade! Que felicidade! Que felicidade! O Pacha convida a gente pra sentar. Muito obrigado. Frank, uma cerveja! Só tem Kuat, Todo Dia, água e toma-lhe biscoito e bolacha e pão e queijo e agora café. Graças a Deus!
Que seja cada dia cada vez mais.

Beijos transbordantes,

HUDSON ANDRADE
04 de março de 2009 AD


17h15

FRONT




Esta é a primeira participação minha na criação de um espetáculo, e como todas as experiências em nossas vidas, esta vem cheia de desafios e novidades, medos, sustos, aprendizados, enfim, tudo no final propõe superação e soma a nossa vida como um tijolo fundamental no alicerce de nosso ser. Descobri novos amigos e tenho aprendido a ser mais sutil com meus movimentos e gestos; alguém que se dedicou às artes marciais a vida toda e agora precisa se mover com delicadeza para não estragar a proposta da cena é foda, mas é bom remodelar nossa postura. Havia escrito um texto anteriormente, mas perdi o manuscrito e a digitação dele nunca chegou ao e-mail da companhia, acho mesmo que ele não queria ser lido... De certa forma foi até bom, porque 13 linhas de rabiscos era pouco para narrar minhas aventuras neste novo aprendizado de minha vida. Assistir a uma “peça de teatro” é totalmente diferente de participar de toda a criação de um espetáculo, como disse Andrew hoje( terça-feira, 03 de março de 2009) : “eu já havia trabalhado com teatro, mas não com gente desse nível tão alto”; e mais, foi em minha adolescência, a ultima vez quando eu tinha dezesseis anos, já tenho vinte e quatro!!!
É muito mágico lembrar que no começo a gente ficava lendo o texto, trocando as falas, relendo o texto, mergulhando em viagens extra – Freudianas, mas não saía do papel; em seguida vieram as propostas de cena, os primeiros esboços dos atores para os personagens e agora, agora já desenhamos cenas inteiras, não o espetáculo quase que por inteiro, mas já tem um esboço! Como o Aníbal sempre diz: “ Ainda não tem nada fechado, viu, gente?” Mas já estamos caminhando para o diamante lapidado.
Eu que pensei que ia ficar por trás das cortinas ajudando com qualquer coisa, fui colocado em cena ajudando um personagem a se transformar. Imaginem só que presentão! Aníbal, sei que andei dando umas faltadas, mas respondendo a sua dúvida: PODE CONTAR COMIGO, SIM. EU VOU FAZER O MELHOR IMPOSSÍVEL PARA AJUDAR!
A moleza acabou, não tem mais como relaxar, agora é trabalho, liguem o FODA – SE e esqueçam o descanso, agora é guerra. SEJAM BEM VINDOS AO FRONT!!!!!!!!!!!!!!!!!!

KLÉBER GEMAQUE


04 de março de 2009 AD

QUEM SOMOS NÓS?


Olha, eu até tentei fazer diferente e escrever só no caderno, mas não dá. Aceita, garoto Andrew! Eu sou um escritor e metido a poeta e não consigo muito fácil escrever sem metafísicas. Logo, aqui vai!
Quem somos nós? É a pergunta do Aníbal para solucionar uma questão cênica de ator / manipulador / personagem / boneco. Quando penso nisso me ocorre o filme homônimo que tenta explicar coisas espirituais pela física quântica. A ciência querendo explicar o que a razão já consegue compreender sem matemática. Pois bem. Perguntar quem somos nós me remete à essência das coisas. À quintessência. Seu eu-profundo. Daí não me sai da cabeça a tacada de mestre do Nhofy quando disse que éramos a ESCURIDÃO DA FLORESTA! Caralho! Gênio! Mesmo que eu me debruce sobre a minha própria opinião e a afunile, como pediu o Pacha, para os vegetais da floresta, não fico mais satisfeito. Seria algo realmente mágico as árvores se moverem e estaríamos camuflados para manpular os biombos, como os soldados nos treinamentos de selva. Mas isso deixou de ter o mesmo encanto. Poderíamos ser os animais, ou outros seres e recorro a imagem do Cirque du Soleil para o espetáculo Varekai e a miscelânea de criaturas estranhas. Mas o Aníbal pediu uniformidade. Daí retorno à escuridão. Ela é um elemento presente demais. Quem já não entrou num lugar qualquer e viu nas sombras o que os olhos só veriam na luz? Quem não sentiu um arrepio ao acordar de madrugada e perceber que não há energia elétrica e eu não sei mais pra que lado fica a porta do quarto? Que criança não temeu o escuro como uma entidade real e faminta onde mora o Bicho-papão (na verdade ele mora nos armários e guarda-roupas!), a Cuca e o Homem do Saco? Mas a escuridão também protege e aninha e é ela que nos recebe quando ficamos chateados e nos trancamos no quarto, ou que atiça nosso sistema nervoso para liberar substâncias calmantes para uma boa noite de sono (para os que têm boas noites de sono!).
A escuridão resolve ainda cenicamente a questão da manipulação dos bonecos pelo básico, do básico, do básico da roupa preta. Só que com alguma magia que neste espetáculo é imprescindível.
Quem somos nós? Somos pedaços de negrume, de noite, de sombra. Criaturas escuras e silenciosas que conduzem os mortais ao sono, ao sonho e, por que não, perto da morte? Mas aqui a morte da realidade, pra que surja um mundo de encantarias nada tolas.
De tudo o que rolou no ensaio, principalmente a sempre grata atividade musical com o Cabrali – que ainda não foi de todo e por todos reconhecida como imprescindível para a harmonia do espetáculo –, ficou essa fala do Nhofy: somos a escuridão da floresta.
É isso que somos. Assim como o canto do Uirapuru que ele e a Laíla criaram e que já impregnou na minha cabeça, isso também já é: SOMOS A ESCURIDÃO DA FLORESTA!

Beijos escuros e noturnos,

HUDSON ANDRADE
03 de março de 2009 AD

16h19

- Tarde chuvosa de terça -

T(r)ocando os instrumentos

Ontem tivemos nosso primeiro ensaio com música. Cabrali é o diretor musical do Uirapuru. Desta vez ele não tocará em cena como nos outros espetáculos, isso cabe ao Nhofy e à Laíla, e também a nós outros.
Ter dois músicos em cena como atores é novo, e ser músico em cena muito mais. Não se trata de uma troca de papéis, acredito que seja uma soma de trabalhos, de experiências... Assim como foi no exercício de ontem, onde cada um começou com um instrumento diferente e depois trocamos entre nós. Baquetas, triângulo, bumbo (é isso?), pandeiro e um outro instrumento de batuque que não sei o nome.
A princípio sempre me parece estranho o que o Cabrali sugere, mas é muito mais impressionante quando concluo o exercício e percebo que consegui, junto dos outros, extrair algum som no mínimo agradável dos instrumentos. E me irrito mais com minha ansiedade em experimentar sem antes perceber o que tenho que fazer, e sem ouvir as instruções. Respira, respira, respira, respira. Depois que trocamos de instrumentos pareceu que a coisa desandou. Ritmo e tempo eram outros e não conseguimos ajustar. Isso me faz pensar que a música dentro de um espetáculo como esse é fundamental, como se fosse mais um boneco que precisa ser manipulado por todos, com cuidado, cada movimento marcado e principalmente muita concentração.

Respeitosamente

MARY FERREIRA
Belém, 03 de março de 2009 AD

P.S. Ontem tivemos nosso 1° contato com o protótipo dos bonecos.


P.S. do P.S. Mas isso é assunto para amanhã.

quinta-feira, 5 de março de 2009

NOSSO CORPO DÁ VOLTAS...

3 dias de trabalho com a ânsia de quem voltou do carnaval com todo o gás. Saudades do processo, dos amigos, do teatro, do ter-ato.
A 6ª foi aquela bagaceira de sempre, com todo mundo querendo o depois. É chato isso de fazer algo com a cabeça em outra coisa, ou gente, ou sei-lá-quê. Ensaia, porra, e depois cai no mundo. Tem a madrugada toda pra isso. Lembra só de dormir direito no domingo que 2ª começa tudo de novo. O negócio foi tão sério que até o ensaio de 4ª com toda a folga e álcool e nem quero pensar o quê mais foi muito mais produtivo. ENTENDA-SE: 6ª não foi ruim, mas podia ter sido muito melhor!!! Ver o Tatu dormindo em pleno ensaio foi escroto! Vão dizer que eu sou chato, CDF, carola, generalista, certinho, o escambau. Foda-se! Sou mesmo!
Reclamações à parte, temos 95% do espetáculo marcado e algumas cenas até já bem definidas, entrando em fase de afinação. Temos um elenco só, nada de músicos e atores, mas artistas. Todos tocando, todos atuando, todos aprendendo. Sônia, nossa luz, sempre atenta, construindo réstias, batom em punho, é uma verdadeira alegria. E o Neto, aprendendo com a mão na massa, quieto e ainda tímido? Bom de ver! Até o Gemaque e o Andrew ganharam seu momento onde-está-wally no espetáculo. Não gostaria o Aníbal de ter o seu momento Hitchcock também?
O labirinto a que o texto nos induziu na leitura agora é realidade. O cenário de metalon e voal, móvel, dinâmico e manipulável. Enormes guarda-sóis são a copa das árvores centenárias e as flores branco-rosa dos rios barrentos de tecido e vara. A construção desses elementos fica a cargo do SÉRGIO CARVALHO e MILTON AIRES.
Bonecos e atores e manipuladores e personagens se misturam num limite tênue de água, ar e mata.
Os personagens agora têm cores-personalidade: quentes – do amarelo ao vermelho – para a irascível Caninana; tons de azul para o doce e firme Norato. Lilás para ambos, ponto de encontro dos gêmeos. Laranja para a apaixonada Jacira, verde para o sapeca Manduca, vermelho para o Curupira e branco e terra para Nhofy e Laíla, entidades dessas matas-labirinto.
Os figurinos fugirão ao estereótipo regionalista esperado e apesar do corte naturalista, buscará na contemporaneidade, estranhamento de cores e tratamento de aplicações o reconhecimento de cada personagem.
É tudo muito gostoso e cada nova cena, descoberta, ou elemento faz tudo ganhar uma nova e maior dimensão. Crescem também os atores e suas performances, velhos cacoetes sendo combatidos, atenção redobrada aos comando do Pacha.
A velha e boa cumplicidade que nos une, inclusive nos telefonemas e mensagens e visitas que chegam daqueles que, desta vez não estão conosco na ribalta.
Arte também é isso: comunhão, rusgas e algum contorcionismo para vencer tudo isso.

Beijos desdobrados.
HUDSON ANDRADE
02 de março de 2009 AD
12h40

Mangueira! Estou aqui na plataforma da estação...
Esta é a melhor parte do processo para mim, é neste momento em que agente consegue ver os vários caminhos, possibilidades, estradas, vidas, mistérios e máscaras que o personagem pode ter, diferente de Hudson Andrade que diz gostar mais dos ensaios do que das apresentações, eu gosto muito dessa etapa, as cenas tomando forma, cor e até mesmo cheiro (como a do curupira e manduca que tem cheiro de terra molhada e folhas verdes, folhas essas que ainda vão ser colhidas pelo Norato numa cena mais a frente, mas muita calma nessa mata - hora) as cenas ganhando ritmo, os personagem ganhando andar, direcionamento, situações e gestos muitos bem desenhados e precisos.claro que ainda temos que trabalhar muito para que tudo isso aconteça mais já estamos nesta estação-etapa das experimentações corporais e o elenco tem alguma bagagem ou algumas com a licença da palavra.
Espero que nesse momento a gente realmente enxergue muitas possibilidades para depois escolher uma ou duas ou elas as possibilidades se encarregarem disso de nos escolher.
E que o elenco não tenha medo do ridículo como diz Aníbal.
Sabemos que para isso precisamos de respeito e confiança do grupo, mas isso já esta sendo construído, agora é se mostrar sem ter ansiedade e medo de se expor e vamos conseguir, ou estamos conseguindo isso, Anibal Pacha, confie na gente .
Muito cuidado com o curupira, pois ele vive lá pras bandas de Santo Antonio e logo, logo ele estará por aqui e nós já entramos na mata.
Merda para todos!


CLECIANO CARDOSO

20 de fevereiro de 2009 AD