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sexta-feira, 6 de março de 2009

PLENO DO SANTO ESPÍRITO



Para o Andrew foi o começo. Para o Nhofy foi o melhor ensaio, até porque não ficamos repetindo e repetindo.mal ele sabe em que há de chegar o dia de ficar repetindo e repetindo e é isso que garante a excelência. Gemaque e Neto também expressaram seu contentamento e todo mundo parecia pleno, cheio, diria mesmo saciado, desses gozos que enchem o peito e deixam a pele danada de boa! Temos uma pequena preocupação com o espaço. A Casa da Linguagem não possui espaço para que guardemos nosso material lá e o Cabrali tem que ficar levando e trazendoos instrumentos nas costas. O Neto ajuda, mas além de não ser bacana, anda é arriscado. Pelo nosso patrimônio e, sobretudo pela integridade dos dois. O Frank vai tentar resolver a sala de ensaios do SIT, mas se não rolar, teremos problemas, porque vai chegar cenário, bonecos e cadê lugar pra tudo isso? A falta de um espaço próprio pesa demais. Vejo outras companhias com o mesmo problema e penso (já pensei) num acordo em que duas, ou mais companhias dividíssemos custos de um espaço e organizassem sua ocupação. Mas é complicado. Aluguéis muito altos e todos praticamente trabalhando à noite o que seria o grande ponto de discussão na hora de partilhar o tempo.
Por enquanto vamos que nem folha no vento, contando com a valiosa ajuda de amigos como os Modernos e agora o Aldo e este espaço que nos recebe. Até quando?

E depois de um discurso que eu considero apaixonado em defesa de uma idéia do Nhofy (ver Quem somos Nós?), fechamos que enquanto não estivermos de personagens seremos um outro personagem: a escuridão da floresta. O Aníbal pediu que pensássemos bem nisso e que na sexta receberíamos um papel onde desenharíamos o que é isso. É, mano, é o Pacha botando a gente pra trabalhar/1 tá certo!!!
Que felicidade! Que felicidade! Que felicidade! O Pacha convida a gente pra sentar. Muito obrigado. Frank, uma cerveja! Só tem Kuat, Todo Dia, água e toma-lhe biscoito e bolacha e pão e queijo e agora café. Graças a Deus!
Que seja cada dia cada vez mais.

Beijos transbordantes,

HUDSON ANDRADE
04 de março de 2009 AD


17h15

FRONT




Esta é a primeira participação minha na criação de um espetáculo, e como todas as experiências em nossas vidas, esta vem cheia de desafios e novidades, medos, sustos, aprendizados, enfim, tudo no final propõe superação e soma a nossa vida como um tijolo fundamental no alicerce de nosso ser. Descobri novos amigos e tenho aprendido a ser mais sutil com meus movimentos e gestos; alguém que se dedicou às artes marciais a vida toda e agora precisa se mover com delicadeza para não estragar a proposta da cena é foda, mas é bom remodelar nossa postura. Havia escrito um texto anteriormente, mas perdi o manuscrito e a digitação dele nunca chegou ao e-mail da companhia, acho mesmo que ele não queria ser lido... De certa forma foi até bom, porque 13 linhas de rabiscos era pouco para narrar minhas aventuras neste novo aprendizado de minha vida. Assistir a uma “peça de teatro” é totalmente diferente de participar de toda a criação de um espetáculo, como disse Andrew hoje( terça-feira, 03 de março de 2009) : “eu já havia trabalhado com teatro, mas não com gente desse nível tão alto”; e mais, foi em minha adolescência, a ultima vez quando eu tinha dezesseis anos, já tenho vinte e quatro!!!
É muito mágico lembrar que no começo a gente ficava lendo o texto, trocando as falas, relendo o texto, mergulhando em viagens extra – Freudianas, mas não saía do papel; em seguida vieram as propostas de cena, os primeiros esboços dos atores para os personagens e agora, agora já desenhamos cenas inteiras, não o espetáculo quase que por inteiro, mas já tem um esboço! Como o Aníbal sempre diz: “ Ainda não tem nada fechado, viu, gente?” Mas já estamos caminhando para o diamante lapidado.
Eu que pensei que ia ficar por trás das cortinas ajudando com qualquer coisa, fui colocado em cena ajudando um personagem a se transformar. Imaginem só que presentão! Aníbal, sei que andei dando umas faltadas, mas respondendo a sua dúvida: PODE CONTAR COMIGO, SIM. EU VOU FAZER O MELHOR IMPOSSÍVEL PARA AJUDAR!
A moleza acabou, não tem mais como relaxar, agora é trabalho, liguem o FODA – SE e esqueçam o descanso, agora é guerra. SEJAM BEM VINDOS AO FRONT!!!!!!!!!!!!!!!!!!

KLÉBER GEMAQUE


04 de março de 2009 AD

QUEM SOMOS NÓS?


Olha, eu até tentei fazer diferente e escrever só no caderno, mas não dá. Aceita, garoto Andrew! Eu sou um escritor e metido a poeta e não consigo muito fácil escrever sem metafísicas. Logo, aqui vai!
Quem somos nós? É a pergunta do Aníbal para solucionar uma questão cênica de ator / manipulador / personagem / boneco. Quando penso nisso me ocorre o filme homônimo que tenta explicar coisas espirituais pela física quântica. A ciência querendo explicar o que a razão já consegue compreender sem matemática. Pois bem. Perguntar quem somos nós me remete à essência das coisas. À quintessência. Seu eu-profundo. Daí não me sai da cabeça a tacada de mestre do Nhofy quando disse que éramos a ESCURIDÃO DA FLORESTA! Caralho! Gênio! Mesmo que eu me debruce sobre a minha própria opinião e a afunile, como pediu o Pacha, para os vegetais da floresta, não fico mais satisfeito. Seria algo realmente mágico as árvores se moverem e estaríamos camuflados para manpular os biombos, como os soldados nos treinamentos de selva. Mas isso deixou de ter o mesmo encanto. Poderíamos ser os animais, ou outros seres e recorro a imagem do Cirque du Soleil para o espetáculo Varekai e a miscelânea de criaturas estranhas. Mas o Aníbal pediu uniformidade. Daí retorno à escuridão. Ela é um elemento presente demais. Quem já não entrou num lugar qualquer e viu nas sombras o que os olhos só veriam na luz? Quem não sentiu um arrepio ao acordar de madrugada e perceber que não há energia elétrica e eu não sei mais pra que lado fica a porta do quarto? Que criança não temeu o escuro como uma entidade real e faminta onde mora o Bicho-papão (na verdade ele mora nos armários e guarda-roupas!), a Cuca e o Homem do Saco? Mas a escuridão também protege e aninha e é ela que nos recebe quando ficamos chateados e nos trancamos no quarto, ou que atiça nosso sistema nervoso para liberar substâncias calmantes para uma boa noite de sono (para os que têm boas noites de sono!).
A escuridão resolve ainda cenicamente a questão da manipulação dos bonecos pelo básico, do básico, do básico da roupa preta. Só que com alguma magia que neste espetáculo é imprescindível.
Quem somos nós? Somos pedaços de negrume, de noite, de sombra. Criaturas escuras e silenciosas que conduzem os mortais ao sono, ao sonho e, por que não, perto da morte? Mas aqui a morte da realidade, pra que surja um mundo de encantarias nada tolas.
De tudo o que rolou no ensaio, principalmente a sempre grata atividade musical com o Cabrali – que ainda não foi de todo e por todos reconhecida como imprescindível para a harmonia do espetáculo –, ficou essa fala do Nhofy: somos a escuridão da floresta.
É isso que somos. Assim como o canto do Uirapuru que ele e a Laíla criaram e que já impregnou na minha cabeça, isso também já é: SOMOS A ESCURIDÃO DA FLORESTA!

Beijos escuros e noturnos,

HUDSON ANDRADE
03 de março de 2009 AD

16h19

- Tarde chuvosa de terça -

T(r)ocando os instrumentos

Ontem tivemos nosso primeiro ensaio com música. Cabrali é o diretor musical do Uirapuru. Desta vez ele não tocará em cena como nos outros espetáculos, isso cabe ao Nhofy e à Laíla, e também a nós outros.
Ter dois músicos em cena como atores é novo, e ser músico em cena muito mais. Não se trata de uma troca de papéis, acredito que seja uma soma de trabalhos, de experiências... Assim como foi no exercício de ontem, onde cada um começou com um instrumento diferente e depois trocamos entre nós. Baquetas, triângulo, bumbo (é isso?), pandeiro e um outro instrumento de batuque que não sei o nome.
A princípio sempre me parece estranho o que o Cabrali sugere, mas é muito mais impressionante quando concluo o exercício e percebo que consegui, junto dos outros, extrair algum som no mínimo agradável dos instrumentos. E me irrito mais com minha ansiedade em experimentar sem antes perceber o que tenho que fazer, e sem ouvir as instruções. Respira, respira, respira, respira. Depois que trocamos de instrumentos pareceu que a coisa desandou. Ritmo e tempo eram outros e não conseguimos ajustar. Isso me faz pensar que a música dentro de um espetáculo como esse é fundamental, como se fosse mais um boneco que precisa ser manipulado por todos, com cuidado, cada movimento marcado e principalmente muita concentração.

Respeitosamente

MARY FERREIRA
Belém, 03 de março de 2009 AD

P.S. Ontem tivemos nosso 1° contato com o protótipo dos bonecos.


P.S. do P.S. Mas isso é assunto para amanhã.

quinta-feira, 5 de março de 2009

NOSSO CORPO DÁ VOLTAS...

3 dias de trabalho com a ânsia de quem voltou do carnaval com todo o gás. Saudades do processo, dos amigos, do teatro, do ter-ato.
A 6ª foi aquela bagaceira de sempre, com todo mundo querendo o depois. É chato isso de fazer algo com a cabeça em outra coisa, ou gente, ou sei-lá-quê. Ensaia, porra, e depois cai no mundo. Tem a madrugada toda pra isso. Lembra só de dormir direito no domingo que 2ª começa tudo de novo. O negócio foi tão sério que até o ensaio de 4ª com toda a folga e álcool e nem quero pensar o quê mais foi muito mais produtivo. ENTENDA-SE: 6ª não foi ruim, mas podia ter sido muito melhor!!! Ver o Tatu dormindo em pleno ensaio foi escroto! Vão dizer que eu sou chato, CDF, carola, generalista, certinho, o escambau. Foda-se! Sou mesmo!
Reclamações à parte, temos 95% do espetáculo marcado e algumas cenas até já bem definidas, entrando em fase de afinação. Temos um elenco só, nada de músicos e atores, mas artistas. Todos tocando, todos atuando, todos aprendendo. Sônia, nossa luz, sempre atenta, construindo réstias, batom em punho, é uma verdadeira alegria. E o Neto, aprendendo com a mão na massa, quieto e ainda tímido? Bom de ver! Até o Gemaque e o Andrew ganharam seu momento onde-está-wally no espetáculo. Não gostaria o Aníbal de ter o seu momento Hitchcock também?
O labirinto a que o texto nos induziu na leitura agora é realidade. O cenário de metalon e voal, móvel, dinâmico e manipulável. Enormes guarda-sóis são a copa das árvores centenárias e as flores branco-rosa dos rios barrentos de tecido e vara. A construção desses elementos fica a cargo do SÉRGIO CARVALHO e MILTON AIRES.
Bonecos e atores e manipuladores e personagens se misturam num limite tênue de água, ar e mata.
Os personagens agora têm cores-personalidade: quentes – do amarelo ao vermelho – para a irascível Caninana; tons de azul para o doce e firme Norato. Lilás para ambos, ponto de encontro dos gêmeos. Laranja para a apaixonada Jacira, verde para o sapeca Manduca, vermelho para o Curupira e branco e terra para Nhofy e Laíla, entidades dessas matas-labirinto.
Os figurinos fugirão ao estereótipo regionalista esperado e apesar do corte naturalista, buscará na contemporaneidade, estranhamento de cores e tratamento de aplicações o reconhecimento de cada personagem.
É tudo muito gostoso e cada nova cena, descoberta, ou elemento faz tudo ganhar uma nova e maior dimensão. Crescem também os atores e suas performances, velhos cacoetes sendo combatidos, atenção redobrada aos comando do Pacha.
A velha e boa cumplicidade que nos une, inclusive nos telefonemas e mensagens e visitas que chegam daqueles que, desta vez não estão conosco na ribalta.
Arte também é isso: comunhão, rusgas e algum contorcionismo para vencer tudo isso.

Beijos desdobrados.
HUDSON ANDRADE
02 de março de 2009 AD
12h40

Mangueira! Estou aqui na plataforma da estação...
Esta é a melhor parte do processo para mim, é neste momento em que agente consegue ver os vários caminhos, possibilidades, estradas, vidas, mistérios e máscaras que o personagem pode ter, diferente de Hudson Andrade que diz gostar mais dos ensaios do que das apresentações, eu gosto muito dessa etapa, as cenas tomando forma, cor e até mesmo cheiro (como a do curupira e manduca que tem cheiro de terra molhada e folhas verdes, folhas essas que ainda vão ser colhidas pelo Norato numa cena mais a frente, mas muita calma nessa mata - hora) as cenas ganhando ritmo, os personagem ganhando andar, direcionamento, situações e gestos muitos bem desenhados e precisos.claro que ainda temos que trabalhar muito para que tudo isso aconteça mais já estamos nesta estação-etapa das experimentações corporais e o elenco tem alguma bagagem ou algumas com a licença da palavra.
Espero que nesse momento a gente realmente enxergue muitas possibilidades para depois escolher uma ou duas ou elas as possibilidades se encarregarem disso de nos escolher.
E que o elenco não tenha medo do ridículo como diz Aníbal.
Sabemos que para isso precisamos de respeito e confiança do grupo, mas isso já esta sendo construído, agora é se mostrar sem ter ansiedade e medo de se expor e vamos conseguir, ou estamos conseguindo isso, Anibal Pacha, confie na gente .
Muito cuidado com o curupira, pois ele vive lá pras bandas de Santo Antonio e logo, logo ele estará por aqui e nós já entramos na mata.
Merda para todos!


CLECIANO CARDOSO

20 de fevereiro de 2009 AD

sábado, 28 de fevereiro de 2009


''Por quê vocês precisam sofrer para aprender? Parecem mulher de malandro.''

Assim Andrew me questionou enquanto voltávamos pra casa depois de uma noite de ensaio.É interessante perceber que por mais que nunca tenha participado de uma experimentação artística ou até mesmo da montagem de um espetáculo, Andrew não se abstém diante deste assunto que lhe é tão novo.Não foi necessário ele ler Stanislavski, Grotowski ou qualquer outro grande teórico do teatro mundial para ter uma percepção do que que significa teatralidade. Pelo contrário, Andrew é aquela pessoa que fica sentada ali, bem ali na cadeira diante do palco, esperando por um apresentação que lhe leve para longe de sua realidade.É um espectador,observador, um aprendiz como ele mesmo gosta de dizer..Uma aprendiz sem teoria e principalmente sem vícios, pronto para experimentar e ser lapidado.Não há um único caminho, um só pensamento que seja maior do que o poder da imaginação que nos é tão próprio.

Para terminar mais uma frase de Andrew ... ''Para obedecer precisa-se de técnica, mas para criar precisa-se unicamente de liberdade.''


Respeitosamente

MARY FERREIRA

27 de Fevereiro de 2009 AD

(MANHÃ DE SEXTA)

IMAGENS, CRENÇAS E CERTEZAS


(ao som de Deusa da Ilusão, de Lulu Santos)

Tudo o que eu vejo tem a sua parecença,
mas o que isso parece, parece a mim
porque talvez a sua verdade seja outra
e cabe a mim descobri-la e compreendê-la
como algo que não compete a mim.
Ou eu posso criar uma minha-realidade
e usá-la, pílula dourada, máscara de carnaval
avesso ao outro e sua fala
certo apenas da minha vaidade,
da forma que eu creio, desviro, resvalo, rumino e exijo que outro a engula.
Outro que jamais verá o que eu vejo
mas que pode me ajudar a ver o que
eu ainda não posso-quis ver.

Se para tanto eu tiver olhos.

Se para isso eu desejar.

Se para quanto eu for.

HUDSON ANDRADE
26 de fevereiro de 2009 AD
11h24

TIC TAC



“Passa tempo tic tac
Tic tac passa hora
Chega logo tic tac
Tic tac vai-se embora...”
E o tempo corre, voa...
Já estamos quase completando um mês de trabalho e parece que só agora ele está começando... o frio na barriga começa, a ânsia nos invade, os ânimos começam a se alterar.
A preocupação agora é saber se vai dar tempo. Mas não lutemos contra ele; temos que correr no mesmo pique, não podemos parar.
O tempo é sábio e ele brinca feito um peralta: estica, corre, encurta, quase pára...
E ele passa, nos ensina, nos cansa, nos envelhece.
Espero que durante estes dias ele não tenha pressa. Já tenho a sensação que as horas estão se transformando em minutos. Está tudo muito prazeroso e temos muito trabalho pela frente.
Tempo, tempo...

LAÍLA CARDOSO
25 de fevereiro de 2009 AD

Já andei três dias e três noites pelo mato sem parar...
Essa foi à experiência que tive quando tinha uns 20 anos na ilha das onças quando estive lá para apresentar um espetáculo de acrobacia e é essa experiência que gostaria de ter com essa montagem do uirapuru, sensação de estar perdido na mata, mas agora com parceiros e bagagens diferentes, bagagens de bolsa, mala, de palco e o mais importante bagagem de alma.
É com esta alma cheia, curiosa e tecnicamente trabalhada que vamos adentrar nesse universo paralelo, nessa mata cheia de surpresas, de mãos dadas e olhos bem abertos para não perder absolutamente nada nem aquelas duas passagens do possível curupira que Neto me mostrou no celular lá de Santo Antonio do Tauá.
Agora vamos a segunda parte do meu plano, quer dizer do meu escrito.
O Uirapuru de Hudson Andrade.
Dar vida a um boneco é sempre muito trabalhoso e difícil, mas depois que se pega o jeito é prazeroso demais.
Ver aquele material inanimado ganhando gestos, andando, falando, rindo, ganhando anima e virando um material animado é super gratificante.
O processo do Aníbal é diferente dos que já participei. Construir tudo no nosso corpo e depois transpor essas descobertas para o boneco e vê-lo ganhar vida precisa de escuta, respeito, disciplina, objetividade e estar disponível e quando se consegue tudo isso realmente o boneco parece ter vida própria e chega a ser gente, gente mesmo! Dessas que tem nome, sobrenome, idade, sexo, família e até uma vida antes daquela que o autor escreveu no texto, com presente, passado e ate futuro.
Eita que esse bichinho é pai d’egua.

CLECIANO CARDOSO

18 de fevereiro de 2009 AD

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

DE VOLTA PARA O FUTURO


Tendo se passado 5 dias desde o nosso último encontro me pego constatando que há informação demais de um único dia e que minha memória não é/está assim tão boa.
Mas eu estava em outro clima, não o do carnaval, mas por ele. O encontro do Movimento Espírita do Pará recebeu mais de 1000 jovens de mais de 20 municípios e até mesmo de fora do Estado. Quatro dias muito bons em que até rolou teatro, mas em outro enfoque, ou melhor, com outro objetivo. Aliás, uma pequena vitória: o tema do próximo ano será Espiritismo e Arte. Pode ser tudo o que nós (artistas espíritas) queremos para desmistificar um monte de idiotices sobre o que é a Arte quando relacionada à religião, como se o próprio teatro não tivesse começado com os ritos aos deuses egípcios e outros até mais antigos. Mas o caminho é longo e os obstáculos e desconfianças arraigados, mas tenho certeza que Jesus há de iluminar essas mentes. Com alguma ajuda de José de Anchieta. Mas isso não é assunto para cá.
Com O Uirapuru tomando forma cada vez mais definida, percebemos um estilo que à primeira vista parece meio anárquico do Aníbal que não é uma criação coletiva, mas que bebe de todas as fontes e usa as referências e as idéias que vão surgindo. Até mesmo os meus dedoches de mafagafos e mafagafinhos. Em algum momento isso tudo vai ser triado, enxuto e utilizado de forma que acrescente à encenação. É bom isso de poder dividir e eu acredito nesses processos em que o ator oferece a matéria-prima que vai construir tudo. E é engraçado perceber que o Aníbal é mais ansioso que o Adriano. Não demora pra ele levantar e dizer o que ele quer, enquanto o Barroso deixa a gente no escuro por tempo demais. Eu não gosto nem do 8 nem do 80. Fico com Sidartha Galtama e opto pelo Caminho do Meio e que Maya não me cegue com a certeza do sucesso. (Não, isso não tem influência de Caminho das Índias e eu acho a escrita da Glória Peres um saco!!!).
De tanto que se falou acho que esse aspecto do processo criativo é o que mais se destaca. Os exercícios para uso de bonecos vão se somando, ou tornando-se mais avançados e é evidente a precisão maior ou menor de uns e de outros, tanto quando é inegável que todos estão progredindo e que esses resultados serão utilizados em trabalhos futuros. Claro!!!
Agora é garantir espaço para o segundo mês de ensaios quando precisaremos de um local que nos permita guardar equipamentos. Roça, moleque! Roça!

Beijos de retorno.
HUDSON ANDRADE
25 de fevereiro de 2009 AD

10h57

CURUPIRA, NORATO E MANDUCA


O CURUPIRA

Ser fantástico que, habita as florestas e é o protetor das plantas e dos animais. suas pegadas enganam os caçadores e seringueiros, que se perdem nas florestas. O curupira também faz as pessoas se perderam imitando gritos humanos. Para não serem incomodados, os seringueiros e caçadores, adaptando um costume indígena, fazem oferendas de pinga e fumo. O Curupira e uma espécie de gênio da floresta. Parece-se com um menino de cabelos vermelhos, mas tem o corpo peludo, dentes verdes e os seus pés são virados: o calcanhar para frente e os dedos para trás. Algumas lendas descrevem que o curupira é um menino que tem cabelos vermelhos em outras ele é careca e que tem o corpo peludo, dentes verdes e os seus pés são virados para trás. É ele quem cuida dos animais da floresta. Dizem que esses ruídos misteriosos que vêm da mata são causados por ele. Tolera os caçadores que caçam para comer, mas não tem pena dos caçadores maldosos, principalmente dos que matam filhotes. Quando vê um caçador que mata por prazer, judia tanto dele, mas tanto, que o coitado, se não morre, fica louco para sempre. Para proteger os animais, ele usa mil artimanhas, procurando iludir o caçador: gritos, assobios, gemidos. O caçador pensa que é um animal ou uma ave e vai atrás do Curupira. Quando percebe, está perdido na floresta. Ao se aproximar uma tempestade, o Curupira corre toda a floresta e vai batendo nos troncos das árvores com um casco de jabuti ou com os pés. Assim, ele vê se elas estão fortes para agüentar a ventania. Se perceber que alguma árvore poderá ser derrubada pelo vento, ele avisa a bicharada para não chegar perto dela.
Entre os mitos indígenas, o Curupira é incontestavelmente o mais antigo, companheiro inseparável das crenças populares, de onde se admite a possibilidade de ser verdadeiramente indígena, senão antes legado pela população primitiva que habitou o Brasil no período pré-colombiano e que descendia dos invasores asiáticos. Curupira, de “curu”, abreviação de “curumim” e “pora”, corpo ou corpo de menino. É a “Mãe do Mato”, o tutor da floresta, que se torna benéfico ou maléfico aos freqüentadores desta.
O Curupira, ora é imperioso e brutal, ora é delicado e compassivo, ora não admite desrespeito ou desobediência, ora se deixa iludir como uma criança. Segundo uma crença generalizada, é o responsável pelos estrondos da floresta. Assim, quando no meio da mata se ouve um estrondo, que não seja uma trovoada, pode estar certo que o Curupira anda por ali…
O curupira é visto como santo ou divindade que faz com que o ser humano (índio ou homem branco) tire da floresta somente o necessário para sobrevivência.
Nesse texto em que estamos fortalecendo, o curupira faz um acordo com a caninana para fazer manduca rodar o dia inteiro pela mata em troca de um saco de fumo.

COBRA NORATO


No paraná do Cachoeiri, entre o Amazonas e o Trombetas, nasceram Honorato e sua irmã Maria, Maria Caninana. A mãe cabocla Zelina sentiu-se grávida quando se banhava no rio Claro.(engravidada pela boiúna) Os filhos eram gêmeos mas obrigada pelo pajé ,acabou por atirá-los no rio e se transformaram em duas serpentes escuras. A tapuia ( mãe) batizou-os com os nomes cristãos de Honorato e Maria. E sacudiu-os nas águas do Paraná porque não podiam viver em terra. O povo chamava-os: Cobra Norato e Maria Caninana.
Cobra Norato era forte e bom. Nunca fez mal a ninguém. Vez por outra vinha visitar a tapuia velha, no tejupar do Cachoeiri. Nadava para a margem esperando a noite. Quando apareciam as estrelas e a aracuã deixava de cantar, Honorato saía d’água, arrastando o corpo enorme pela areia que rangia. Vinha coleando, subindo, até a barranca. Sacudia-se todo, brilhando as escamas na luz das estrelas. E deixava o couro monstruoso da cobra, erguendo-se um rapaz bonito todo de branco. Ia cear e dormir no tejupar materno. O corpo da cobra ficava estirado junto do Paraná. Pela madrugada, antes do último cantar do galo, Honorato descia a barranca, metia-se dentro da cobra que estava imóvel. Sacudia-se. E a cobra, viva e feia, remergulhava nas águas do Paraná. Volta a ser a Cobra Norato. Salvou muita gente de morrer afogada. Direitou montarias e venceu peixes grandes e ferozes. Por causa dele a piraíba do rio Trombetas abandonou a região, depois de uma luta de três dias e três noites.
Maria Caninana era violenta e má. Alagava as embarcações, matava os náufragos, atacava os mariscadores que pescavam, feria os peixes pequenos. Nunca procurou a velha tapuia que morava no tejupar do Cachoeiri. No porto da Cidade de Óbidos, no Pará, vive uma serpente encantadora, dormindo, escondida na terra, com a cabeça debaixo do altar da Senhora Sant’Ana, na igreja que é da mãe de Nossa Senhora. A cauda está no fundo do rio. Se a serpente acordar, a Igreja cairá. Maria Caninana mordeu a serpente para ver a Igreja cair. A serpente não acordou, mas se mexeu. A terra rachou, desde o mercado até a Matriz de Óbidos. Cobra Norato matou Maria Caninana porque ela era violenta e má. Uma vez por ano Cobra Norato convidava um amigo para desencantá-lo. Amigo ou amiga. Podia ir na beira do Paraná, encontrar a cobra dormindo como morta, boca aberta, dentes finos, riscando de prata o escuro da noite: sacudir na boca aberta três pingos de leite de mulher e dar uma cutilada com ferro virgem na cabeça da cobra, estirada no areião. Cobra fecharia a boca e a ferida daria três gotas de sangue. Honorato ficava só homem, para o resto da vida. O corpo da cobra seria queimado. Não fazia mal. Bastava que alguém tivesse coragem. Muita gente, com pena de Honorato, foi, com aço virgem e fresquinho leite de mulher, ver a cobra dormindo no barranco. Era tão grande e tão feia que, dormindo como morta, assombrava. A velha tapuia do Cachoeiri, ela mesma, foi e teve medo. Cobra Norato continuou nadando e assobiando nas águas grandes, do Amazonas ao Trombetas, indo e vindo, como um desesperado sem remissão. Num putirão famoso, Cobra Norato nadou pelo rio Tocantins, subindo para Cametá. Deixou o corpo na beira do rio e foi dançar, beber e conversar. Fez amizade com um soldado e pediu que o desencantasse. O soldado foi, com o vidrinho de leite e um machado que não cortara pau, aço virgem. Viu a cobra estirada, dormindo como morta. Boca aberta. Sacudiu três pingos de leite entre os dentes. Desceu o machado, com vontade, no cocuruto da cabeça. O sangue marejou. A cobra sacudiu-se e parou. Honorato deu um suspiro de descanso. Veio ajudar a queimar a cobra onde viveram tantos anos juntos. Honorato ficou homem. E morreu não se sabe porque, anos e anos depois, na Cidade do Cametá, no Pará. Não há nesse rio e terras do Pará quem ignore a vida da Cobra Norato.
Na cena em que a batizamos de confronto, Norato esta com uma aparência de homem ,quando impede a caninana de quebrar os ossos de manduca ,se transforma em cobra quando é enfrentado pela irmã e depois quando cuida de manduca volta a ser homem novamente.

MANDUCA


É um caboclo pávulo. Tem como amigo o uirapuru que é um pássaro encantado, só manduca consegue entender a fala desse bichinho que na verdade só canta, mas como são muito amigo manduca passa a ouvir sua voz.manduca é agraciado pelo canto do uirapuru todas as manhãs em sua janela.
No prólogo os dois entram num acordo, o pássaro para agradar manduca e manduca para conquistar sua cunhatã.
O caboclo acredita nos deuses, tanto que na primeira cena ele demonstra sua crendice evocando o deus do amor. nesta cena ele tenta convencer Jacira de que falou com o uirapuru eo pássaro pediu para ser solto.
Manduca não maltrata os seres da floresta, adora contar vantagem e ganhar algum troco quando encontra com turistas.
Na ultima cena em que denominamos de realidade é o momento em que manduca se reencontra com sua morena, ele está feliz por ver sua amada tenta de um tudo para convencer Jacira do porque não conseguiu chegar a tempo no porto.

CLECIANO CARDOSO

PINTE A CERCA, ESFREGUE O CHÃO!


Égua, mano. Teatro é teatro. Foda-se!, diria meu amigo Ajax.
Começamos a montar coisas do Uirapuru. Já não é mais a mesa, a leitura, a intenção, a viagem cerebral e doidivanas.é isso que já foi feito mais o corpo que agora entra de vez na jogada. Antes, mais exercícios: as bolas, varas e balões assumem o posto que será em algum momento do boneco e vão nos preparando para a cena. A base,o braço em “L”, o foco, o deslocamento. É o corpo que vai, o pé girando no chão, sem se mover do eixo. É a precisão de lançar algo sem ver a direção para a qual se lança o objeto; exercícios que são repetidos com o braço à altura do ombro, ou no alto, para garantir o tônus necessário para suportar o tempo total do espetáculo e o peso do boneco.
Então eu, Mary, Cleciano e Lucas, de frente para os outros, lemos o que o Aníbal nos pediu para escrever: como eu vou construir cada um dos nossos personagens: seu corpo, como ele anda, gesticula, fala, o timbre dessa voz, sua roupa, o que ele gosta e o que ele não gosta. Elementos práticos. Dessa matéria criamos uma MATRIZ CORPORAL para cada personagem. Primeiro a base, sem mover o tronco, ou braços. E andar na sala dizendo que personagem é para, segundo o Aníbal, fixar aquele movimento associado ao personagem. Depois colocamos um gesto para a parte de cima. Uma matriz só. Na explicação do diretor, a porção inferior do corpo corresponde ao personagem e varia pouco, e a superior é da dramaturgia e mãos e expressões correspondem às intenções do texto. Estabelecida essa matriz, nós a decupamos em 5 sub-movimentos e os repetimos para fixação. Daí juntamos tudo isso a um trecho da peça e atravessávamos a sala numa diagonal. Na seqüência juntaram-se a nós o Coro: Laíla e Nhofy, e propusemos algumas cenas. Rabiscos, onde a tal matiz precisava ser exercitada e aprimorada, para no final termos a anima do boneco, que não é do próprio nem do manipulador, mas do público e múltiplo como ele.
Aí entra a grande questão e o grande barato. Até então vínhamos trabalhando com o Adriano uma neutralidade corporal que só era quebrada quando o texto interiorizado, apropriado, exigia um gesto. Essa economia de movimentos foi levada à exaustão no Homem do Princípio ao Fim e na Comédia dos Erros. Houve mesmo um momento na preparação daquele espetáculo em que eu fiquei preso a uma cadeira para garantir apenas a força do texto. Agora é exatamente o inverso. O corpo precisa registrar essa matriz, fisicalizá-lo, para então, em cena, diluí-lo, incorporando-o ao movimento do boneco que tem começo, meio e fim.
São dois trabalhos completamente diferentes e não há parâmetros entre eles, exceto a excelência do resultado. São dois caminhos para duas atividades bem definidas: o trabalho do ATOR com o Adriano e o do ATOR-MANIPULADOR com o Aníbal. Dois arquivos que eu preciso criar, não contaminar um com o outro e dispor de ambos.
Cara, que muito louco! Depois de dois anos com o Barroso eu dava tilt ao executar os comandos do Pacha. Uma descoordenação motora que só aumentava com a ansiedade velha de guerra de nem esperar o toque do Aníbal para realizar a tarefa.
Um grande borrão. Riscos pra todo lado. A dita carpintaria teatral.
Muito dez! muito 10!
Foda-se! E o meu bom amigo Ajax bate palmas de cócoras no chão.

Beijos entusiasmados.
HUDSON ANDRADE
19 de fevereiro de 2009 AD

15h45

SENTIR-SE


Venho – a algumas dias – acompanhando o crescimento/desenvolvimento de uma montagem cênico-teatral intitulada “O Uirapuru”; na qual figuro como diretor de palco para o grupo que está montando o espetáculo: a Companhia Teatral Nós Outros.

Bem, feita minha identificação e a contextualização de minha presença, vamos ao evento que me fez escrever isto; com um pequeno prólogo introdutório:

Aníbal Pacha, diretor do espetáculo, pede a todos os participantes do processo – que quiserem – que escrevam sobre suas impressões e expectativas sobre o desenrolar da montagem.
Este é meu primeiro – e muito possivelmente o único – escrito que farei em esta função.
O motriz foi uma pergunta que Aníbal fez: “Como você está se sentindo dentro do processo?”
A resposta dada no momento precisa ser justificada e esclarecida; não que os presentes não me tenham entendido, mas por uma necessidade minha de ser explícito (e terei que fazer um anexo a esta folha) em minhas proposições.

Eu disse que foi uma boa pergunta, porque eu nunca havia parado pra pensar sobre isto. Eu apenas acompanho o processo, sigo como uma espécie de ‘passageiro’. É o meu senso de transitoriedade.
Como disse no momento em que respondi; sei que o parágrafo acima – minha resposta – soa muito mal, então preciso (ao menos tentar) esclarecer as coisas.
Nunca parei pra pensar em como me sinto dentro do processo simplesmente porque NÃO me importo com o que sinto.
Estou dentro do processo, sou parte dele, e a consciência deste fato é TUDO que preciso.
Mesmo minha função – diretor de palco – é uma função mecanicista, então não vejo necessidade de desenvolver uma perspectiva emocional sobre o espetáculo.
Minha condição de passageiro do processo é clara: fui convidado por Hudson (pelo que sou grato) para integrar a equipe de trabalho da montagem; não sou parte da Companhia e isto me faculta um distanciamento do andamento do crescimento e desenvolvimento da encenação; enquanto eu tento pressupor o desenrolar técnico do mesmo (luz, som, cenário e afins); pois é com isto que irei lidar e lidarei enquanto for convidado a fazer isto.

Por conta da ótica por mim utilizada para interagir com as outras coisas e elementos deste (e de todos) os processos é que me auto-classifico como GENÉRICO.

Mas caso queiram saber como me sinto em relação ao processo: digo que sinto-me muito bem, obrigado! Não tenho que me queixar – a não ser, talvez, o Lucas... (ANEXO)
Não sou interessado em sentir-me, apenas em conscientizar-me das facetas do processo – de todos os processos dos quais sou convidado a tomar parte. E, justamente por ser convidado, sei que minha participação é transitória. E a consciência de minha transitoriedade; de meu constante “Memento Mori”, é o que impede-me de desenvolver uma abordagem sentimental e/ou emocional dos processos.

Estas mesmas conscientizações são que me embargam... Por isto este é o meu primeiro – e único – escrito sobre “sentir-me” e o processo.
Não que não nutre expectativas, ou tenha anseios em relação ao “O Uirapuru”. Possuo as mesmas que todos os outros participantes: “Que voe, mesmo com escamas”; “Que nos encante”. E outros que não lembro; frases que são metáforas para o desejo concreto de que o espetáculo seja e tenha um sucesso retumbante, reverberante; ecoando pelos quatro ventos.
E, embora eu nutra as mesmas expectativas e anseios, os guardo comigo; principalmente por não sentir necessidade de externá-los. Afinal minha função não tem/possui abertura para tal abordagem.

Pergunta: “Copo meio cheio, ou copo meio vazio?”
Minha Resposta: “Metade é sempre metade.

FRANK COSTA

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

RESPOSTAS


Entramos numa nova etapa da montagem. Etapa difícil? Sim. Ainda mais para os atores. Dar vida e forma a um personagem não é nada fácil!
E eu! Que pensei que só iria receber ordens do Cabrali e tocar...
Estava eu lá, junto aos atores, tentando decifrar as ordens do Aníbal Pacha. Eu!
Bom, a experiência está sendo boa, estou me divertindo muitíssimo e confesso que já estou envolvida por esse novo mundo (pelo menos para mim).
Aqueles vários pontos de interrogação que estão em minha cabeça aos poucos vão sumindo, vou percebendo que tudo que aqui fazemos tem fundamento, nada é em vão... e as perguntas nunca respondidas pelo Aníbal, aos poucos vão se esclarecendo.
Mas acredito que ainda restarão várias interrogações, ainda mais sendo o Aníbal o diretor! Sabe, eu gosto desse método. Estimula a mente!
Vou tentar deixar a ansiedade de lado e curtir cada passo dado, guardando comigo a experiência que tenho certeza irá servir para a minha vida.

LAÍLA CARDOSO
18 de fevereiro de 2009 AD

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009





(Ao som de Cartola, O mundo é um moinho).
Certo, por onde começar, posso dizer que estou confuso e sei que tal afirmação partindo de mim é uma redundância, mas enfim, “aceita garoto”. “(...) como se eu tivesse perdido uma terceira perna que até então me impossibilitava de andar, mas que fazia de mim um tripé estável”, ou seja, Clarice disse tudo. Tenho a plena sensação de que não estamos falando o mesmo idioma, Aníbal. Você grego e eu falo em Latim, mas quando começo a tentar usar expressões gregas, tu passas a falar italiano, e depois francês, e depois hindi e por aí vai (agora está tocando “Girl, you’ll be a woman soon”). Ademais, entendo quando tu não me deixas pirar de uma cena para outra. Mas aviso logo que não concordo com uma linearidade retilínea para o Manduca (anexo I), porém confio na condução do Aníbal. E prova de que não digo isto da boca pra fora, é que em outros processos declarei para a própria direção que não me sentia seguro com ela. Sei do desafio que me foi colocado e estou trabalhando para tentar vencê-lo à altura, não vencer por vencer, mas vencê-lo à altura (quem me dera, ao menos uma vez... agora está no fim “Índios” e vai começar “Que belo estranho dia pra se ter alegria”, eu e Roberta Sá que digamos). Por fim, sobre o processo o que tenho a dizer já foi dito, por isso aqui o repito “que não seja eterno, posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure” (MORAES, Vinícius).

AS COBRAS DOS LABIRINTOS VOAM


Pensa que não?! Então te mete. Ou melhor, mete um desses ofídios num labirinto qualquer e não precisa esperar muito para que o bicho suma. Não, ele não se enfiou num buraco nem saiu do outro lado. Sumiu mesmo e como os processos de fissão nuclear não funcionam muito bem com seres orgânicos, é que elas voaram mesmo.
Cobras são algo claustrofóbicas e por isso não suportam muito tempo em locais de pouca mobilidade e é só reparar nessas que saem de cestos e covas como estão estressadas e prontas a morder até o calcanhar de Aquiles.
E não tem porque duvidar. Se até as vacas do Quintana voam, por que as cobras não podem fazer o mesmo? Existe nelas um desejo de liberdade e seus corpos cilíndricos são aerodinamicamente perfeitos para cruzaras ares como setas escamadas e multicores. Suas asas... – Sim, asas! E com penas e tudo. Duvidando de novo? E Quetzalcoalt, deus da criação, do aprendizado e dos ventos, adorado pelos Maias e Astecas, que é uma serpente emplumada? Te sai dessa!!
As cobras voam dos labirintos. Aceita, garoto!!!
Da especulação passamos à explicação. Nada místico: cobras e uirapurus são mensageiros de Rudá, deus tupi do amor. O uirapuru traz os sentimentos que Rudá manda dos céus aos enamorados e cabe às cobras injetá-los nos humanos, mordiscando o seio das mulheres e a nuca dos homens. E tinha que ser assim, né? Afinal, todo amor tem alguma coisa de venenoso. Mas voltando. Quando alguma cobra é presa num labirinto, o uirapuru vem pelo alto e a carrega dali. Às vezes ele perde algumas penas no resgate. Daí a crença popular de que as cobras criam asas e voam dos labirintos. Nada demais. Puro corporativismo!
Incosteste apenas o fato de que cobras e uirapurus estão reunidos, ao menos neste espetáculo, onde cabe a mim dar vida ao Uirapuru e à Caninana na sua fase cobra. A fase turista fica a cargo da Mary Ferreira.
E assim, definidos os personagens, é aprofundar e lhes dar anima, o que neste início de semana ficou séria e negligentemente prejudicado por trabalho, chuva, reuniões, podólogos, conserto de bicicleta e risoto de alho-poró com bolo molhadinho de doce de leite com canela.
Acho que o dia precisa ter mais do que 24 horas e eu, mais vergonha na cara e organização.

Beijos ruborizados.

HUDSON ANDRADE
16 de fevereiro de 2009 AD16h30

CRÁS! BUM! BANG!


Acordei antes do despertador tocar o primeiro sinal e sentei,os pés no tapetinho ao lado da cama. Mas foi só ao levantar que eu senti a fisgada na planta do pé esquerdo. Pronto. Começou! Crás! Bum! Bang! Anos de obesidade deixaram seqüelas nas costas, joelhos e pés e como ainda não tive saco pra voltar pra uma academia, a causa só pode ser uma: a parte prática de uma nova montagem começou. Toda vez que os ensaios começam pra valer é assim: Crás! Bum! Bang! E ontem foram rápidos exercícios para acomodar o corpo às atividades. Nem foi um aquecimento; mas os exercícios exigiam muito da base. Daí a dor. Que o corpo é o instrumento do ator isso todo mundo sabe; que existe um completo desleixo com isso é outra verdade incontestável. O relaxamento vai desde noções básicas de higiene até hábitos ruins como fumar, beber alcoólicos, dormir pouco, alimentação equivocada, isso sem falar nos mafagagos e nos mafagafinhos! Então alongou daqui, pulou de lá: Crás! Bum! Bang! E olha o corpo estirado no chão. A meta corporal dos atores não é a capa da Men´s Health e mais vale um corpo definido do que hipertrofiado. E por definido entenda-se tônus muscular e resistência. Um mínimo de atenção é desejável. Afinal, quem respeita um endocrinologista obeso, ou um cardiologista fumante?!
Dos exercícios iniciais para acomodação oriundos do tai chi chuan passamos aos exercícios específicos para trabalho com bonecos: base, equilíbrio, foco. Andar com precisão pelo espaço e lançar uma pequena bola na mão direita, na esquerda, de um apara outra, cada vez mais alto até descer novamente, com o olhar fixo primeiro na própria bola e depois à frente; atravessar a sala de um lado e de outro de uma corda esticada no chão, com uma vara na frente do rosto, ora caminhando, ora descolando em voltas de 180º, os pés fincados no chão,leves, mas precisos. Crás! Bum! Bang! Joelhos levemente dobrados, nenhuma tensão no braço, ou rosto. Numa cena com bonecos é nele que está o foco,não no corpo do ator-manipulador, que no entanto precisa garantir estabilidade para não deformar as ações do boneco nem desequilibrar-se ou cair quando, por exemplo, outro ator-manipulador passe por ele para entrar em cena.
Será uma hora de exercícios diários para garantir o resultado desejável. Crás! Bum! Bang!
É, parceiros! Ser ator, ou atriz é uma profissão exigente.
E quem for podre que se quebre!!!
Beijos levemente doloridos;

HUDSON ANDRADE
13 de fevereiro de 2009 AD
10h43

P. S.: Hoje vou usar tênis e foda-se a unha encravada!

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009


Belém, 12 de fevereiro de 2009

Minha coluna dói, aiaiai e como dói. Principalmente porque tive que levar o Andrew até em casa de bicicleta. Normalmente é ele quem leva e traz. Agora sei como ele se sente.
Ah! Mas devo admitir que gostei da experiência.
Aproveitei para trabalhar novamente minha respiração que havia deixado um pouco de lado nos últimos dias. Isso é um erro. Pô, já não basta eu estar comendo demais!! Por falar nisso vou diminuir a quantidade de comida.
Algo que considero bastante relevante neste nosso trabalho é a importância e o cuidado que devemos dar ao corpo, mente e voz.
Hoje me surpreendi com os exercícios que fizemos.
Primeiro jogando a bolinha para o alto, tendo a mesma como foco da ação e depois jogá-la de uma mão para a outra. Haja concentração.
E o bastão então? Desse eu gostei!
É muito complicado de explicar a sensação que tenho quando devo fazer tantas coisas ao mesmo tempo.
A idéia de colocar a corda no chão e ter que andar sem pisar nela e ainda por cima, segurando um bastão sem mexer.
Senti-me da mesma maneira quando corto pano para fazer minhas blusas de retalhos. Funciona assim: ali estou eu a cortar o pedaço de tecido com toda a calma, cuidado e concentração para que não saia nada errado. Mas minha cabeça trabalha a todo vapor, rápido, rápido e mais rápido, um turbilhão de pensamentos se cruzam simultaneamente.
O corpo versus a mente.
E mais uma vez percebo o quanto a respiração é muito importante. Com ela consigo dividir as etapas de um exercício, me concentro mais facilmente, fico em uma “liga”. Olha que nem preciso tomar suco de maracujá.

Respeitosamente Mary.

Tarde de quarta (11/02/2009)

Enquanto organizava alguns materiais esta tarde em meu quarto, encontrei um envelope de cor amarela e me lembrei que havia sido presenteada por um amigo dias atrás com uma mensagem. Mensagem esta que trata de uma certa “comunidade emocional”. Diante dela muitas coisas me remeteram à montagem de “O uirapuru”, porque trata das mesmas questões que estamos passando:


Sentimento
Criatividade
Aprendizagem
Emoções
Companheirismo
Um com o outro
Coexistindo

Anexado à mensagem veio um artigo de Ítala Nandi intitulado “Quem somos nós?” e acho interessante reproduzi-lo aqui. Afinal, QUEM SOMOS NÓS?

“A alma deseja habitar no corpo porque, sem os membros do corpo, ela não pode agir sem sentir”
- Leonardo da Vinci

Se para nos situarmos nas circunstâncias dos personagens temos de perguntar sempre: Onde? Por quê? Quando? O que quer? – precisamos também descobrir: Quem somos nós? De onde viemos? Para onde vamos?
O ator pode saber todas as técnicas, conhecer todas as teorias e histórias das artes humanas, pode estar muito preparado fisicamente, vocalmente, intelectualmente, mas nada disso valerá de nada se o ator não entregar a sua alma, a sua energia, para que a personagem adquira vida.
Como em todos os jogos há regras, no jogo do teatro se pede que o ator tenha ardor mas que não perca a razão. A razão precisa estar presente, é ela que vai investigar sobre o personagem e vai permitir uma interpretação ardorosa e ao mesmo tempo consciente.
Diz um pensamento Tao: “Para nos tornarmos diferentes do que somos devemos ter alguma consciência do que somos!”
Conhecer-se a si mesmo é válido para todos mas, principalmente, para o ator, porque sem se conhecer o ator terá fôlego curto, mas se ele desejar ser um intérprete de verdade, com raízes mais profundas, consciente da força social dessa importante profissão, sagrada profissão, responsável, libertária e liberadora, ele estará liberto para reger sua vida por meio do conhecimento, estudo que terá de durar toda sua vida. A profissão de ator pode ser comparada a um sacerdócio dedicado ao jogo lúdico, ao prazer e à paixão. Por isso mesmo ele deve ser muito bem remunerado por exercer profissão tão complexa.
Existem alunos que não querem se abrir, que é difícil para ele criar, porque se sentem violentado se mostrar sua emoção. Dizem assim: “Professora, ainda não estou preparado, na próxima aula eu faço”. Ou eles são preguiçosos e não trabalham sozinhos, ou têm medo de violentar suas emoções, de expressar mais do que a ocasião ou a circunstância pedem. Têm medo do que pensam deles, e não se expõem, isso é bem comum entre iniciantes. Para ser ator você não pode dar ouvidos ao que dizem de você.
Se você abafar seus sentimentos por muito tempo, acabará por perdê-los. E é preciso saber de uma vez por todas que atuar dói, mesmo atuando na comédia – dói e não há como evitar essa dor, mas é uma dor diferente, ela é prazerosa, orgástica.
Ao final de um bom espetáculo nos sentimos como se estivéssemos passado por uma orgia, um bacanal coletivo.

Respeitosamente, Mary Ferreira.

P.S.: Amanhã teremos exercício com corda balão e bola. Sabe Deus o que vai acontecer.

P.S. do P.S.: Talvez a gente “brinque” hehehe! de taco, pira-bola?! Hehehe!